"Eis a história que hoje vos quero contar, ou talvez, a história que todos queremos contar uns aos outros…
Numa tarde de Inverno, conheci um pintor numa praia. Tornamo-nos amigos e ele convidou-me para visitar o seu atelier. Sempre tive curiosidade de conhecer o atelier de um artista e aceitei. Este pintor não só pintava quadros mas fazia-os falar. Ele era também um contador de histórias. Ele pintou-me uma história…
Entrei no atelier e ele começou a trabalhar. Diante de mim uma tela em branco.
- Que vês? – perguntou
- Vejo uma simples tela em branco, onde é que está o mundo?
Então ele começou a desenhar riscos, primeiro lentamente, depois cada vez mais depressa, depois quase freneticamente, parece que o carvão tinha ganho vida nas suas mãos…
- Ei, ei calma – disse eu – assim não nos entendemos. Haja vida e alegria…mas eu não consigo acompanhar isto tudo…
- Sabes, por vezes, nem sempre conseguimos entender tudo, tal é a vertigem e a velocidade, ou, simplesmente, não estamos no mesmo comprimento de onda…estes traços fazem-te confusão porque ainda não consegues descodificar, ainda não consegues desprender o sentido que eles encerram…sabes, continuou o pintor, para construir um mundo novo, primeiro temos que o entender…não vale a pena ficarmos a pensar que dantes é que era bom e com saudades do tempo maravilhoso e sem problemas que nunca existiu…temos que olhar os outros nos olhos, deixar que a brisa do tempo nos invada, que o cheiro da chuva e da relva molhada penetre nas nossas narinas, abra os nossos poros e que a suave brisa, sempre esclarecedora nos faça dançar a dança do mundo, primeiro devagar…depois mais depressa, mas sempre com os pés no chão…Depois, é preciso olhar o céu e ganhar horizontes…arrojar estar com os outros, ganhar ritmo, sentir que se faz parte, sem deixar de ser quem somos! Sentir que apesar de parecermos todos iguais, cada um de nós pode ser uma extraordinária diferença no sítio onde está, onde habita, onde vive e se faz pessoas…todos juntos, conseguimos!
De repente, o pintor ficou calado, tomou distância e desde o outro lado do seu atelier observava a sua obra. Depois de alguns minutos, tive a sensação de que, apesar de continuar de pé e com os olhos abertos, ele já não estava aqui…
Olhou-me profundamente, tomou a palavra e contou-me o segredo da sua vida…
- Percebes agora? É a tua vez! Chegou a tua hora de pintar a história. Preciso da tua imaginação para lhe dar um novo rumo, do teu olhar para descobrir caminhos de luz, das tuas mãos para desenhar com criatividade esboços de vida nova, da tua energia para avançar com esta grande obra.
Tive medo. Nunca tinha pintado na vida. Sentia-me incapaz mas aquele olhar animou-me. Peguei no pincel e comecei a trabalhar…
Eu estava admirado com o que tinha feito. Não podia acreditar no que os meus olhos viam. Aquele mundo estava a encher-se de esperança, de cores transparentes e cristalinas, como os da água que corre entre as rochas e enche os leitos e os riachos, fazendo surgir a vida em tudo o que toca. Voltou a encher-se de cores vivas e brilhantes, como as cores douradas e prateadas da alegria, que se reflectem nos rostos dos homens e mulheres que trabalham, amam, gozam e crescem. E o pintor continuou:
- Vês quando tu participas as coisas ganham outra cor e tu ganhas outro interesse. Quando te envolves parece que tudo faz mais sentido. Muito daquilo que criticas no mundo e com razão, pode mudar, se mudares tu também as forma como olhas o mundo…tudo pode mudar se ergueres a tua voz…
E enquanto o pintor dava mais uns retoques na sua obra, continuava:
- Tudo pode mudar, se guardares o que na história te faz falta para entenderes o mundo, se guardares o essencial da tua cultura, das tuas raízes…e se fores capaz de te abrires às novidades que te valorizam, que te abrem horizontes…
E no fim de toda esta história, o quadro estava pronto…além do mundo, inexplicavelmente, conseguia ver a minha face…o pintor? Tinha desaparecido da minha vista mas, na minha mão, permanecia uma paleta cheia de cores…à espera que lhes desse vida…e quase num sussurro ouvia: Vai…recebeste uma força, que fará de mim minha testemunha! Constrói um mundo novo.
Então percebi…a responsabilidade passava mesmo por mim! Mais ainda, por cada um de nós…”
Numa tarde de Inverno, conheci um pintor numa praia. Tornamo-nos amigos e ele convidou-me para visitar o seu atelier. Sempre tive curiosidade de conhecer o atelier de um artista e aceitei. Este pintor não só pintava quadros mas fazia-os falar. Ele era também um contador de histórias. Ele pintou-me uma história…
Entrei no atelier e ele começou a trabalhar. Diante de mim uma tela em branco.
- Que vês? – perguntou
- Vejo uma simples tela em branco, onde é que está o mundo?
Então ele começou a desenhar riscos, primeiro lentamente, depois cada vez mais depressa, depois quase freneticamente, parece que o carvão tinha ganho vida nas suas mãos…
- Ei, ei calma – disse eu – assim não nos entendemos. Haja vida e alegria…mas eu não consigo acompanhar isto tudo…
- Sabes, por vezes, nem sempre conseguimos entender tudo, tal é a vertigem e a velocidade, ou, simplesmente, não estamos no mesmo comprimento de onda…estes traços fazem-te confusão porque ainda não consegues descodificar, ainda não consegues desprender o sentido que eles encerram…sabes, continuou o pintor, para construir um mundo novo, primeiro temos que o entender…não vale a pena ficarmos a pensar que dantes é que era bom e com saudades do tempo maravilhoso e sem problemas que nunca existiu…temos que olhar os outros nos olhos, deixar que a brisa do tempo nos invada, que o cheiro da chuva e da relva molhada penetre nas nossas narinas, abra os nossos poros e que a suave brisa, sempre esclarecedora nos faça dançar a dança do mundo, primeiro devagar…depois mais depressa, mas sempre com os pés no chão…Depois, é preciso olhar o céu e ganhar horizontes…arrojar estar com os outros, ganhar ritmo, sentir que se faz parte, sem deixar de ser quem somos! Sentir que apesar de parecermos todos iguais, cada um de nós pode ser uma extraordinária diferença no sítio onde está, onde habita, onde vive e se faz pessoas…todos juntos, conseguimos!
De repente, o pintor ficou calado, tomou distância e desde o outro lado do seu atelier observava a sua obra. Depois de alguns minutos, tive a sensação de que, apesar de continuar de pé e com os olhos abertos, ele já não estava aqui…
Olhou-me profundamente, tomou a palavra e contou-me o segredo da sua vida…
- Percebes agora? É a tua vez! Chegou a tua hora de pintar a história. Preciso da tua imaginação para lhe dar um novo rumo, do teu olhar para descobrir caminhos de luz, das tuas mãos para desenhar com criatividade esboços de vida nova, da tua energia para avançar com esta grande obra.
Tive medo. Nunca tinha pintado na vida. Sentia-me incapaz mas aquele olhar animou-me. Peguei no pincel e comecei a trabalhar…
Eu estava admirado com o que tinha feito. Não podia acreditar no que os meus olhos viam. Aquele mundo estava a encher-se de esperança, de cores transparentes e cristalinas, como os da água que corre entre as rochas e enche os leitos e os riachos, fazendo surgir a vida em tudo o que toca. Voltou a encher-se de cores vivas e brilhantes, como as cores douradas e prateadas da alegria, que se reflectem nos rostos dos homens e mulheres que trabalham, amam, gozam e crescem. E o pintor continuou:
- Vês quando tu participas as coisas ganham outra cor e tu ganhas outro interesse. Quando te envolves parece que tudo faz mais sentido. Muito daquilo que criticas no mundo e com razão, pode mudar, se mudares tu também as forma como olhas o mundo…tudo pode mudar se ergueres a tua voz…
E enquanto o pintor dava mais uns retoques na sua obra, continuava:
- Tudo pode mudar, se guardares o que na história te faz falta para entenderes o mundo, se guardares o essencial da tua cultura, das tuas raízes…e se fores capaz de te abrires às novidades que te valorizam, que te abrem horizontes…
E no fim de toda esta história, o quadro estava pronto…além do mundo, inexplicavelmente, conseguia ver a minha face…o pintor? Tinha desaparecido da minha vista mas, na minha mão, permanecia uma paleta cheia de cores…à espera que lhes desse vida…e quase num sussurro ouvia: Vai…recebeste uma força, que fará de mim minha testemunha! Constrói um mundo novo.
Então percebi…a responsabilidade passava mesmo por mim! Mais ainda, por cada um de nós…”
Sei que ao longo da vida tenho tido pintores no meu caminho que me lançam desafios e colocam os pincéis na mão…mas sinto que não tenho sido capaz de preencher a tela por completo..a obra fica incompleta mas não vou desistir..aos poucos as coisas vão compondo-se…as cores vão-se misturando, novas pinceladas são dadas de dia para dia e não tarda terei a minha obra terminada…é certo que o ultimo retoque será do grande pintor…Ele sim é o mestre….
